quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Lembranças

Há dias em que se acorda com certo quê de melancolia. Um vazio inexplicável no peito.  Foi assim que Ariela sentiu-se naquela manhã.
“um não-sei-o-quê .... uma saudade....” – considerava Ariela.
Como um raio inesperado em uma chuva de verão, Ariela lembrou-se. Lembrou-se de uma pessoa que partira há muito tempo. Partira de forma rápida, contudo, não de forma inesperada.
Sentiu uma dor pungente, embora diferente da que sentira na época em que se dera o fato. Pungia de forma distinta, todavia, dolorosa.
Na época doía – lhe aceitar a perda. Rejeitava a idéia de perde-lhe, de nunca mais ter-lhe por perto, como seu porto sempre seguro em meio a suas tempestades. Nunca mais seu terno olhar, nunca mais seu bondoso sorriso, nunca mais seus sábios conselhos... Era difícil dizer adeus... Mesmo passado tanto tempo.
“É difícil crescer e aprender a se despedir...” – meditou Ariela.
Hoje, súbita, a dor, antes adormecida, se fazia notar. Ah, a dor da saudade...
“Faz tanto tempo... mas ainda dói como se fosse hoje... pensei que havia superado... esquecido...” – cogitava Ariela. 
Naquele instante, Ariela entnedeu, ou começou a compreender. Embora tempo corrido, dor aparentemente aplacada, a saudade apenas encontrava-se adormecida, assim como as lembranças. Nunca nos esquecemos de fato das coisas, apenas as colocamos em estado de letargo. E como na Flora, em que cada estação renova-se de tempos em tempos, nossas lembranças vêem nos visitar em momentos inesperados. Vem mansinha pela manhã a apossar-se do peito. Não é amarga, nem doce... É, apenas é.
É lembrança de momentos vividos. É saudosismo pelo que se foi e não volta.  É, talvez, lição de amadurecimento... É um constante aprender a despedir-se.

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